Parecer contrário ao PL que autoriza ensino domiciliar no RS será votado na terça (05)

Após leitura de parecer contrário ao Projeto de Lei que trata da educação domiciliar (homeschooling) no Rio Grande do Sul, pela deputada Juliana Brizola (PDT) – relatora na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa -, o texto voltará a ser apreciado nesta terça-feira (05). A decisão foi anunciada na última terça-feira (29), em sessão na Comissão.

A Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD), a Faculdade de Educação da UFRGS, o ANDES/UFRGS e outras entidades que compõem o Fórum de Combate à Intolerância e ao Discurso de Ódio convocam a comunidade para acompanhar a sessão da CCJ, a partir das 9h da terça-feira (5), e pressionar os deputados para que o projeto não seja aprovado na Comissão.

A inconstitucionalidade do projeto

Na avaliação da deputada, o PL 170/2019, de autoria do deputado Fabio Ostermann (Novo), apresenta inúmeras incompatibilidades com a Constituição Federal, a Constituição estadual, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

Toda legislação trazida a justificar a possibilidade de alcançar a legalidade da matéria traz em seu bojo a contrariedade de um princípio basilar de nossa legislação, qual seja, a existência da Escola Regular que é uma instituição que propicia o espaço para além de sua função educativa formal, ou seja, de lugar de ensino, agregando a essa dimensão outros valores próprios da formação integral do ser humano”, alerta o parecer.

Para a relatora, a escola, como espaço educacional privilegiado de socialização, de informações e de conhecimento, ainda adquire uma atribuição fundamental na construção de uma cultura de respeito aos direitos da pessoa humana em sua essência. “As funções não se resumem, simplesmente, ao ensino, apontam que a socialização da criança e do jovem, no convívio escolar, tem um papel fundamental em suas vidas, reafirmando que a escola não é necessária apenas pelo conhecimento que transmite, mas pelo contexto no qual ele é transmitido”.

Em meio às discussões na CCJ, Fábio Ostermann pretendia apresentar um “contraparecer” ao relatório, mesmo sem peso jurídico. No entanto, um pedido de vista do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) travou a manobra.

A escola faz parte da rede de proteção à infância

Na interpretação da Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD), que conta com mais de 15 mil participantes no estado, a educação domiciliar não reconhece as crianças e os jovens como sujeitos de direito, privando-os do espaço de convivência escolar, onde podem entrar em contato com a pluralidade de origens sociais e de perspectivas sobre a vida e o mundo.

“É uma forma de individualismo extremo que não reconhece a escola como espaço coletivo de participação e de exercício de cidadania, afetando negativamente modelos democráticos de sociedade”, afirma o informativo da AMPD, que participou da sessão de discussão da pauta e convoca a comunidade para seguir pressionando os deputados na audiência da semana que vem.

Ainda conforme o grupo, o sistema fragiliza o direito à Educação e à escola pública, pois pode servir de disfarce, por exemplo, para a exploração do trabalho infantil doméstico, o comércio informal nas ruas, o trabalho rural, a participação em atividades ilícitas e a exploração sexual de crianças e jovens.

“Parte dos parcos recursos públicos destinados à educação pública deverão ser destinados ao acompanhamento da educação domiciliar, incluindo não só a aplicação de exames de conhecimentos, mas também a fiscalização de situações de violação de direitos humanos. E mais, a escola faz parte da rede de proteção à infância e é o local em que professores atentos fazem o diagnóstico e comunicam ao Conselho Tutelar situações de violência doméstica”, pontua o informativo da AMPD.

Leia aqui a íntegra do parecer da relatora.