Andifes apresenta ações de universidades no enfrentamento à pandemia

Na manhã desta segunda-feira (11), a direção da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) realizou uma coletiva de imprensa por webconferência com o tema “Atividades emergenciais das universidades federais para a pandemia”.

Na atividade, o professor Márcio Guerra, diretor executivo do Colégio de Gestores de Comunicação (Cogecom)  da Andifes, mediou a interação do professor João Carlos Salles Pires da Silva, presidente da Associação, com jornalistas. Além de Salles, membros da Direção da entidade responderam às perguntas do público.

A manifestação de Salles foi centrada nos esforços que as universidades têm feito para o combate à pandemia e na preparação para uma futura retomada das atividades paralisadas. Hoje, 59 das 69 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) estão com atividades presenciais paralisadas. Salles destacou que as universidades são lugar de conhecimento e solidariedade, que elas não estão paradas durante a pandemia e que “estamos completamente voltados para o combate à pandemia”. Lúcia Pellanda, reitora da UFCSPA, informou que as universidades são responsáveis por, pelo menos, 53 ações de testagem e, até o momento, já haviam sido realizados mais de 55 mil testes pelas universidades federais. O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, lembrou que várias pesquisas estão em processo sobre uma possível vacina, mas que ela não deve ser esperada antes de um ano e meio, pois é necessário “medir a segurança populacional de uma vacina”.

A atuação do sistema de hospitais universitários também foi lembrada como contribuição das IFEs para o enfrentamento à pandemia.  Os hospitais das universidades federais oferecem 2.228 leitos normais e 489 leitos de UTI e são responsáveis por atenção de média e alta complexidade no SUS. Esses hospitais, muitas vezes, são referência para outras doenças e o sistema está sobrecarregado. Para a Andifes, é importante manter a lógica do SUS porque outras doenças seguem acontecendo. O reitor Nóbrega (UFF) lembrou que pesquisas realizadas em outros países apontaram que, durante a pandemia, também aumentaram os números de mortes por outras doenças, devido ao elevado grau de ocupação dos leitos hospitalares.

Durante a coletiva, foram destacados os principais avanços das pesquisas que têm sido realizadas nas IFES. A reitora Pellanda mencionou as pesquisas virais, outras sobre a identificação de casos, estudos voltados para a redução de custos dos testes e desenvolvimento de peças para respiradores, e destacou a pesquisa conduzida pela UFPel com outras 10 universidades gaúchas sobre a prevalência do vírus, de base populacional: “essa é uma pesquisa inédita no mundo todo e mostrou uma forma de calcular a subnotificação”, afirmou a reitora da UFSC.

O presidente da Andifes ainda destacou que a Secretaria de Ensino Superior do MEC (SESU) lançou um edital de R$180 milhões que foram destinados para o conjunto de ações de combate à pandemia que as universidades federais estão conduzindo.

ENEM não pode ser publicidade

Questionado sobre a realização do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), Salles afirmou que “não podemos dissimular a gravidade da situação”. A Andifes havia recebido a informação do INEP de que a manutenção formal do calendário do Enem era necessária para garantir procedimentos administrativos, como prazos de licitações, mas que o calendário seria revisto caso fosse necessário. Peças publicitárias com as datas de realização do ENEM e incentivando estudantes a se inscreverem estão divulgadas em diversos veículos de comunicação, mas “o Enem não pode ser publicidade”, apontou o presidente da Andifes.

A realização do Exame sem que muitos estudantes secundaristas tenham acesso às condições e à tecnologia necessárias pode tornar ainda mais desiguais as chances de acesso às universidades.

Atividades presenciais nas Universidades devem obedecer critérios científicos e condições específicas

Sobre a retomada das atividades presenciais, Salles apontou que é preciso pensar na condição do futuro com base na ciência, pois será necessário modificar a estrutura das universidades. Para Salles, “a universidade não se resume a dar aula; é espaço de encontros acadêmicos”, portanto é necessário pensar que medidas serão necessárias e quais os equipamentos de proteção que precisarão ser utilizados por aqueles que circulam nos ambientes das universidades.

O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Claudio Lucas Nóbrega, afirmou que pensar em um cenário futuro não significa pensar em um retorno em uma data próxima.

A fala do presidente da Andifes aponta para uma estratégia de conjugar ações presenciais e remotas que ainda devem ser estudadas: “as universidades são capazes de propiciar à população acesso às tecnologias, mas a pandemia nos mostrou que as condições dos estudantes são muito desiguais fora da universidade. […] É preciso garantir isonomia de acesso aos estudantes”, afirma.

A Andifes planeja a realização de um seminário nacional sobre ações digitais ou remotas de ensino, que deve acontecer ainda esse mês.

Sobre uma data prevista para o retorno às atividades presenciais nas IFES, o presidente da Associação respondeu que “cada universidade será respeitada nas suas condições específicas de desempenhar sua atividade acadêmica”. Há uma disparidade entre as estruturas físicas e capacidades tecnológicas de diversas universidades em todo o país.

É preciso mais investimento nas universidades

Outro ponto abordado foi o orçamento das universidades. A redução orçamentária dos últimos anos torna a situação das IFES ainda mais difícil. Ao mesmo tempo, a pandemia mostra a importância de o país contar com um sistema robusto de ensino e pesquisa, para produzir conhecimento e alternativas de proteção da saúde, com autonomia.

A reitora Lúcia Pellanda  (UFCSPA) afirmou que “a circulação provocada pela universidade pode retomar um surto epidêmico”; por isso, as universidades são as últimas a voltarem em um plano de retomada das atividades nas diversas cidades do país.

Ainda, foi lembrado que o ano civil e o ano letivo não coincidem. Cada universidade tem autonomia para deliberar a esse respeito e é provável que as atividades letivas de 2020 possam seguir até 2021.

Ao fim da entrevista, Salles afirmou que “as universidades vão cerrar fileiras com todos que defendem a vida e reagem ao obscurantismo no país”.