30M mobiliza multidões contra cortes na educação pública

30 de maio de 2019

Nem a chuva, que insistiu em cair durante todo o dia em Porto Alegre, nem o frio desmobilizaram mais um dia de protestos contra a política do governo federal de cortes nas verbas da educação pública. Em sintonia com o restante do país, a tarde de 30 de maio na capital gaúcha foi marcada por manifestações, que culminaram em um ato na Esquina Democrática seguido de caminhada até o largo Zumbi dos Palmares, reunindo milhares de pessoas na capital gaúcha.

O 2º Dia Nacional de Lutas em Defesa da Educação Pública, convocado por Une, Ubes, Fasubra, ANDES-SN e outras entidades nacionais, foi organizado em Porto Alegre por uma articulação da qual participam, dentre outras entidades, o ANDES/UFRGS, o SindoIF, a Assufrgs, a UEE, a Umespa, o Cpers, os Diretórios Centrais de Estudantes da UFRGS, da PUCRS e da UFCSPA, a União de Estudantes do IFRS e a Associação de Pós-Graduandos da UFRGS. O 30M – como o movimento foi chamado – foi considerado um aquecimento para a Greve Geral de 14 de junho, especialmente porque também condenou a Reforma da Previdência.

Na UFRGS, diversas unidades ficaram fechadas durante o dia, e uma concentração se formou a partir das 17h em frente ao prédio da Faculdade de Educação (Faced), no Campus Central, para onde estudantes, docentes e técnico-administrativos da UFCSPA e do IFRS também se dirigiram. O professor Guilherme Dornelas Camara, primeiro tesoureiro do ANDES/UFRGS, que esteve presente em todo o ato, conta que o mau tempo motivou ainda mais os participantes. “As pessoas segurando guarda-chuvas abrigavam umas às outras, cantavam palavras de ordem, estavam animadas. Construímos um grande ato.” Camara relata que, durante a caminhada, a população que estava nas ruas se mostrou solidária com a causa. “Motoristas buzinaram, pessoas nas paradas de ônibus abanaram, e muitos apartamentos piscaram suas luzes em apoio. Isso só mostra que a iniciativa de hoje foi mais um passo na construção de una Greve Geral muito potente em 14 de junho, e que estamos mobilizados.”

 

 

No Rio Grande do Sul

Em Pelotas, estudantes, professores e técnico-administrativos uniram-se novamente contra o desmonte da educação. Assim como no ato de 15 de maio, milhares de pessoas lotaram o largo do Mercado Central contra os cortes orçamentários e a Reforma da Previdência. Os protestos também buscam fortalecer o chamado para a Greve Geral convocada pelas centrais sindicais.  Já em Rio Grande, o Largo Dr. Pio ficou lotado, mesmo com frio e chuva. Em Caxias do Sul, 2° Dia Nacional em Defesa da Educação e da Aposentadoria incluiu uma aula pública na escola Cristóvão de Mendoza, para discutir o tema proposto, enquanto em Uruguaiana os participantes da manifestação saíram em caminhada pelas ruas centrais da cidade no início da noite.

Pelotas, no início da tarde do 30M. Foto: Patrícia Porciúncula/RBS TV

Em Santa Maria, o panfleto distribuído trazia os dizeres: “Por nenhum direito a menos! Em defesa das instituições de ensino superior públicos. Você sabe o que está em risco com os cortes do MEC?” O objetivo da mobilização foi dialogar com a comunidade acadêmica e com a população usuária do Hospital Universitário da região (HUSM) sobre a importância de defender a universidade pública dos cortes orçamentários e promovidos pelo governo Bolsonaro e que prejudicam frontalmente as pesquisas e projetos.

Em Santa Rosa, durante uma hora, estudantes reunidos no ginásio do campus do Instituto Federal Farroupilha (IFFAR) desligaram as luzes do prédio interromperam o fornecimento de água e internet. No local, eles trocam ideias, apresentam números e falam da situação atual da educação.

No Brasil

De acordo com a União Nacional dos Estudantes (UNE), 197 cidades tiveram atos contra os cortes nesta quinta (30). No Rio de Janeiro, mais de 100 mil pessoas se reuniram no protesto. Em Curitiba, a faixa arrancada no último domingo (26), durante manifestação pró-governo, foi reinstalada em frente à UFPR. São Paulo também registrou público de mais de 100 mil pessoas, que saíram em caminhada pela Avenida Paulista. Em Belém do Pará, pelo menos seis prédios de universidades públicas amanheceram com portões fechados, e parte das aulas e atividades foram suspensas. Já em Recife, após duas horas de caminhada com aproximadamente 70 mil pessoas, a manifestação contra o contingenciamento foi encerrada com shows de artistas locais, enquanto na Bahia, onde professores das universidades estaduais seguem em greve, foram realizadas manifestações em cidades como Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas, Serrinha e Vitória da Conquista, entre outras.

Foram registrados, também, atos fora do país, em localidades como Los Angeles (EUA) e Amsterdã (Holanda).

Reação do governo

O Ministério da Educação (MEC) emitiu nota na tarde desta quinta afirmando que a comunidade acadêmica – inclusive pais e responsáveis – “não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar”. O texto ainda orienta que denúncias sejam feitas por meio da ouvidoria da pasta, e ameaça cortar o ponto dos servidores envolvidos em atos em horário de expediente. Na noite anterior, o ministro Abraham Weintraub já havia declarado que os estudantes seriam “coagidos” a participar dos protestos por professores.

A diretoria do Sindicato Nacional emitiu imediatamente curta nota, para difusão nos meios de comunicação: “O ANDES-SN repudia as declarações  do ministro da Educação, pois entende que elas são uma afronta à liberdade de ensinar e aprender, estruturantes do Ensino Público. São declarações que demonstram o equivocado raciocínio do governo de que os/as estudantes seriam incapazes de pensar de forma independente”.