Nesta terça-feira (3), acontece a 1ª Roda de Conversa do Projeto Memória: 50 anos dos Expurgos da UFRGS, lançado na quinta-feira (28). Intitulada “Movimento estudantil ontem e hoje”, será um encontro com lideranças estudantis da década de 1960 e de hoje, com a presença de nomes como Raul Pont, Carlos Schmidt, José Loguercio, Flavio Koutzii, Ana Paula Santos, Rodrigo Fuscaldo e Alice Gaier. A mediação será do professor Robert Ponge.
A intenção do projeto, coordenado pela professora Claudia Zanatta, do Instituto de Artes, é marcar a memória dos expurgos realizados na Universidade após o golpe civil-militar de 1964 – nos anos de 1964 e 1969. A iniciativa, desenvolvida por docentes da Universidade através de um Projeto de Extensão, inclui um Memorial de Pedra no Campus Centro, exposição, debates e a confecção de um livro.
A inauguração do Memorial, de autoria do artista plástico Irineu Garcia, aconteceu às 14h, no pátio entre a Faculdade de Educação e o Anexo III/PRAE. A cerimônia contou com a presença de autoridades e de membros da comunidade universitária que viveram o processo e da comunidade acadêmica. O professor Cláudio Accurso, exonerado da Faculdade de Ciências Econômicas em 1964, representou os homenageados. O docente recordou o silêncio institucional durante os processos, “parte por conivência e parte por medo”, e desejou que a mensagem que o memorial traz “sirva de seiva para os espíritos que buscam mais liberdade, mais democracia e menos desigualdade”. Junto ao monumento, está um jardim projetado pelos docentes Paulo Brack (Instituto de Biociências) e Sérgio Tomasini (Faculdade de Agronomia).
Além da escultura, o projeto envolve uma exposição no Centro Cultural da Universidade. São 18 aquarelas de autoria do professor da Faculdade de Arquitetura José Carlos Freitas Lemos, que retratam a história dos expurgos, além de vídeos inéditos com depoimentos de docentes, fotos e outros documentos.
“Reconstituir esses episódios, ainda que resumidamente, é importante para levar à reflexão sobre o papel da universidade na sociedade e como ela pode ser manipulada para servir a interesses estranhos às finalidades previstas em seu nascimento na sociedade ocidental, como espaço de liberdade de pensamento, confronte respeitável de ideias, estímulo à dúvida e rejeição a certezas absolutas, base da construção de conhecimento com as ferramentas e o rigor do método científico”, pondera a professora Lorena Holzmann, aposentada do departamento de Sociologia, em artigo veiculado pelo Sul21.
“Realizar este projeto em quatro meses foi possível não só porque a motivação que nos impeliu para a frente era enorme, como também porque sempre que pedimos apoio a colegas, técnicos, artistas, estudantes, jornalistas, aos que já saíram da universidade, aos vários órgãos da UFRGS e aos detentores de direitos autorais, todos aceitaram sem titubear”, agradece a professora Cristina Amélia Carvalho (Escola de Administração). Ainda estão previstas ações educativas dirigidas aos alunos de graduação, jovens e adolescentes das escolas do ensino médio, públicas e privadas, que serão convidados a visitar a Exposição com explicações em linguagem acessível. A exposição fica aberta até o dia 31 de dezembro. A entrada é gratuita.
Comissão da Verdade do ANDES-SN
Durante os anos de 1964 e 1969, período da ditadura civil-militar, dezenas de professores, servidores técnico-administrativos e estudantes foram expulsos e afastados de suas atividades na UFRGS. Os processos de exclusão foram arbitrários e agressivos.
Com o propósito de contar a versão dos trabalhadores perseguidos nas universidades, o ANDES-SN criou, em 2013, sua Comissão da Verdade, uma vez que há várias discordâncias em relação à forma como foi constituída e como trabalhou a Comissão Nacional da Verdade, instituída pelo governo federal. Desde que foi estabelecida, já realizou dois seminários nacionais e publicou o Caderno 27 do ANDES-SN “Luta Por Justiça e Resgate da Memória”. Atualmente, o grupo é formado pelos docentes Josefa Lopes (Apruma SSind.), Alexandre Marcondys (Sindunifap – SSind.) e Wanderson Fábio de Mello (Aduff SSind.), tendo como suplentes os docentes Cristiano Engelke (Aprofurg SSind.) e Flavio Pereira (Adunioeste SSind.). A comissão é ainda composta por dois representantes da Diretoria Nacional, Ana Maria Estevão, 3ª vice-presidente, e Erlando Rêses, 3º tesoureiro.
A Comissão da Verdade do ANDES-SN foi pauta de uma das mesas do “Seminário de História e Memória do movimento docente: lutas por autonomia e liberdade, ontem e hoje”, realizado em Rio Grande, na sede da Aprofurg, de 29 de novembro a 1º de dezembro. O professor Guilherme Dornelas Camara, 1º vice-presidente do ANDES/UFRGS, representou a Seção Sindical no evento.