15 de maio de 2019: o dia em que o Brasil parou pela Educação

A última quarta-feira, 15 de maio, entrou para a história em termos de mobilização no Brasil. Primeira paralisação nacional contra as políticas do governo Bolsonaro, a Greve da Educação começou pela manhã e se estendeu até a noite em centenas de cidades. Mais de 70 universidades e Institutos Federais paralisaram em protesto contra os cortes de orçamento e de bolsas.

Desde as primeiras horas do dia, professores, estudantes, técnico-administrativos e movimentos sociais começaram as mobilizações. Sindicatos de professores da rede básica divulgaram adesão de 80% a 90% nas escolas estaduais.

Mobilização em Porto Alegre

Em Porto Alegre, uma das 70 cidades que realizaram atos no Rio Grande do Sul, estima-se que mais de 30 mil pessoas foram às ruas em defesa da educação e contra a Reforma da Previdência. A mobilização começou pela manhã em diversos pontos da cidade. Comunidades de escolas e universidades se juntaram em seus locais de trabalho e estudo, entregando materiais informativos, realizando debates e buscando promover conscientização sobre a pauta do movimento.

Na UFRGS, a adesão à paralisação foi total na maioria das unidades. As faculdades de Educação e Arquitetura e o Instituto de Artes amanheceram fechados.  Não houve aulas no Campus do Vale, na Agronomia, na Esefid, na maioria das unidades do Campus Saúde e do Campus Central. O Colégio de Aplicação também paralisou. Professores do Campus Saúde promoveram panfletagem e conversa com pedestres a respeito da importância de investimentos em educação em frente ao Hospital de Pronto Socorro.

Na Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), as mobilizações começaram de manhã, com aulas públicas e abraço ao Campus. No Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), estudantes, professores e técnico-administrativos dos campi Restinga, Alvorada e Viamão se juntaram à comunidade do Campus Porto Alegre, para realizar aulas públicas, panfletagens e performances no centro da cidade, sensibilizando a população.

Tsunami da Educação no Rio Grande do Sul

Uma grande concentração de docentes, alunos e técnicos teve início às 13h30 em frente à Faculdade de Educação da UFRGS (Faced), que recebeu um largo abraço. “Formamos uma longa corrente, com centenas de participantes”, destaca Elisabete Búrigo, presidente do ANDES/UFRGS. De lá, partiram todos de mãos dadas até o Instituto de Educação General Flores da Cunha, para se juntar ao ato unificado convocado pelos sindicatos de professores e técnicos e pelas entidades estudantis.

Após o abraço simbólico ao Instituto de Educação e as falas das entidades, milhares de participantes seguiram em marcha pelo túnel da Conceição em direção ao centro de Porto Alegre, passando pelo Campus Porto Alegre do IFRS e pela sede do INSS, até a Esquina Democrática. “Fomos conversando com pedestres, entregando panfletos que alertam para as consequências dos ataques do governo”, lembra Elisabete, ressaltando a união entre ensino superior e Educação Básica. “Bolsonaro tenta iludir a população dizendo que vai tirar dinheiro das universidades e dar para a Educação Básica, colocando uns contra os outros. Mas estamos todos aqui defendendo os recursos para a educação, pois é preciso garantir recursos para a educação básica de qualidade e expandir o ensino superior, não encolher.”

Às 18h, uma caminhada que reuniu dezenas de milhares de estudantes se juntou ao ato da Esquina Democrática. Mais de 30 mil estudantes, professores, trabalhadores, aposentados, militantes e simpatizantes de movimentos sociais, sindicatos, associações e centrais sindicais seguiram em uma grande e histórica marcha até o Largo Zumbi dos Palmares, contra os cortes no orçamento da Educação e contra a reforma da Previdência.

Em Pelotas, milhares de pessoas foram às ruas defender a Educação. O movimento teve a adesão não apenas de servidores e estudantes do Ensino Superior. Escolas municipais e estaduais e até mesmo a Universidade Católica (Ucpel) paralisaram suas atividades.

Em  Rio Grande, uma passeata luminosa saiu do Largo Dr. Pio até o Juvenal Miller, para depois percorrer as ruas do centro.

Já em Santa Maria, nem a chuva desanimou os manifestantes na UFSM, que realizaram um protesto nos dois principais acessos de entrada ao campus: rótula da Avenida Roraima e também na entrada pelo distrito de Pains. A mobilização se estendeu a todos campi da instituição: Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul.

Pelo País

Conforme informações da imprensa, mais de 1,5 milhão de pessoas protestaram pelo Brasil neste 15 de maio. Em São Paulo, uma das cidades em que a adesão foi maior, mais de 250 mil pessoas tomaram as ruas. O ato se concentrou em frente ao vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e os dois sentidos da via foram interditados por volta das 14h. Uma hora depois, quatro quarteirões da avenida já estavam tomados pela multidão. O protesto terminou às 19h30 em frente à Assembleia Legislativa, na região do Parque Ibirapuera.

Multidão semelhante lotou o centro de Belo Horizonte. O ato começou na Praça da Estação e depois se deslocou pelo centro, passando e parando pela Praça Sete e pela Praça Raul Soares. Segundo a organização do evento, também participaram 250 mil pessoas.

No Rio de Janeiro, calcula-se que o número de manifestantes tenha sido de 200 mil pessoas. Em Fortaleza, os organizadores estimam 100 mil pessoas.

As ruas pressionam o Congresso e o governo

“Em média, a perda de cada instituição federal no Rio Grande do Sul é de R$ 30 milhões – número curiosamente próximo dos R$ 40 milhões que o governo pretende gastar para atender as demandas de cada deputado que votar a favor da PEC que desmonta a Previdência. A convocação do ministro da Educação para explicar os cortes na Câmara dos Deputados, no entanto, prova que a pressão popular ainda é mais forte”, avalia a presidente do ANDES/UFRGS.

“Mexeram em um vespeiro e o povo está na rua, para derrotar todas as políticas neoliberais desse governo, que rebaixam a qualidade de vida para o nosso povo. Estamos aqui para dizer não! Vamos sair daqui com uma tarefa importantíssima, a de manter a mobilização para a grande Greve Geral do dia 14 de junho. Vamos derrotar todas as políticas do governo Bolsonaro!”, acrescenta Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN, que participou das atividades em Brasília.

 

Novos protestos

A Greve Nacional da Educação foi o primeiro movimento unificado desde a posse de Jair Bolsonaro, e abre caminho para a Greve Geral de 14 de junho, convocada pelas Centrais Sindicais. Antes disso, no dia 30 de maio, novas manifestações estão sendo organizadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE), pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), no chamado Segundo Dia Nacional em Defesa da Educação. Detalhes sobre todas as atividades seguirão sendo divulgados em nossos canais de comunicação.

 

Veja aqui mais fotos do ato em Porto Alegre.