17 de junho de 2019
Uma enorme multidão tomou as ruas de Porto Alegre na mobilização que encerrou a Greve Geral de 14 de junho, convocada pelas centrais sindicais e por diversas entidades e movimentos sociais. Os manifestantes, que as centrais estimam como cerca de 50 mil, protestaram contra as políticas federais de Reforma da Previdência, ataques à educação e desrespeito a trabalhadores e trabalhadoras.
A marcha contou com adesão de estudantes, professores, servidores públicos, metalúrgicos, bancários, petroleiros e várias outras categorias, além de aposentados e apoiadores da pauta. Os docentes da UFRGS aderiram em peso à luta, participando de concentração que reuniu milhares de pessoas na Faculdade de Educação (Faced), antes de se dirigirem ao ato unificado da Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre.
No interior, a mobilização também foi intensa e deu ainda mais peso à causa. Em Pelotas (RS), um grande ato público ocorreu à tarde, percorrendo ruas centrais da cidade. Diversas categorias, que estavam paralisadas na data, se uniram à mobilização, incluindo docentes e servidores técnico-administrativos da UFPel e IFSul e municipários, entre outras. O transporte público também parou pela manhã, bem como parte do poder judiciário. A greve foi apoiada ainda pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPel.
Em Santa Maria, a população mandou um recado bem alto e didático à presidência da república: não aceitará o desmantelamento da Previdência, da Educação ou de quaisquer serviços públicos. A mobilização iniciou cedo e terminou tarde: logo pela manhã, piquetes nas garagens de ônibus e na entrada da UFSM; ao final da tarde, um ato com batucadas, faixas, cartazes e gritos de ordem conquistou o apoio da comunidade.
Em Uruguaiana, a paralisação atingiu escolas públicas e até particulares. Já em Osório, os manifestantes, incluindo o corpo docente do Campus Litoral Norte da UFRGS, foram às ruas para lutar contra os cortes na educação e a retirada de direitos dos trabalhadores, assim como nas cidades de Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Carazinho, Passo Fundo, Rio Grande, São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha.
Caminhada em Pelotas
Repressão policial
A greve geral no Rio Grande do Sul começou com piquetes em frente a garagens de empresas de ônibus em Porto Alegre e em diversas cidades, além de bloqueios em estradas. As estações do Trensurb amanheceram fechadas e o transporte pelo trem metropolitano chegou a ficar interrompido.
Apesar de todo o movimento ter sido pacífico, o Batalhão de Choque da Brigada Militar da capital entrou em ação para dissolver concentrações, inclusive com o uso de força e armas contra os manifestantes. Um caminhão atirou jatos de água e mais de 50 pessoas foram detidas no início da manhã – inclusive representantes do ANDES-SN que acompanhavam as manifestações.
O presidente do Sindoif, André Martins, foi um dos detidos. De acordo com o professor, o grupo foi cercado pelo efetivo enquanto dialogava com trabalhadores do transporte coletivo. “Foi uma verdadeira emboscada, na qual fomos sitiados e atingidos por balas de borracha e gás lacrimogêneo sem qualquer possibilidade de podermos sair daquela situação”, descreve.
O Conselho Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (CEDH-RS) divulgou, no sábado (15), uma moção de repúdio contra o abuso de autoridade que teria sido praticado contra o advogado Ramiro Goulart, no exercício da função, nas dependências da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre, para onde foram levados os manifestantes.
O Sindicato Nacional também divulgou nota repelindo as violentas ações ocorridas em pelo menos três cidades do país. “O ANDES-SN repudia quaisquer ações antidemocráticas, violentas e repressoras que ocorreram no 14J. A instituição dará toda a solidariedade e apoio jurídico a todos que sofreram injustamente”, destacou a nota.
Ao longo da caminhada que encerrou a greve, em diversos momentos as falas no caminhão de som criticavam a violência. Representante da CSP-Conlutas, Erico Correa ecoou o sentimento em sua fala: “Quero saudar as companheiras que foram para as portas das garagens tomar espadadas dos brigadianos”.
Brasil contra os abusos do governo federal
No Brasil, houve atos em mais de 375 cidades, como mostra o Mapa Interativo produzido pelo Armazém Memória e a Comissão Justiça e Paz de São Paulo.
De acordo com as centrais, das 27 capitais, 19 tiveram o sistema de transporte interrompido. Portos, indústrias metalúrgicas e bancos também pararam suas atividades.
Para o presidente do ANDES-SN, Antonio Gonçalves, o objetivo da mobilização foi alcançado. “A greve geral teve essa característica: paralisar as atividades, e isso foi feito Brasil afora. O ANDES-SN avalia como um dia bastante positivo, já que é o primeiro dia de greve geral desde 28 de abril de 2017”, apontou.
Em São Paulo, cerca de 50 mil pessoas foram à Avenida Paulista protestar. No Rio de Janeiro, o número chegou a 100 mil pessoas no centro da cidade, que também registrou ação truculenta da Polícia, na intenção de dispersar a mobilização. Em Niterói, mais uma reação violenta: estudantes e docentes, incluindo a professora Marinalva Oliveira, ex-presidente do ANDES-SN, foram atropelados por um carro que atravessou o bloqueio da via. Apesar de feridos, todos passam bem.
Em Florianópolis, mais de 30 mil pessoas saíram em passeata. Em Salvador, 2.700 ônibus do sistema municipal não saíram das garagens, e aproximadamente 70 mil manifestantes realizaram caminhada. Em Natal, os organizadores da Greve Geral afirmam que cerca de 80 mil pessoas compareceram à manifestação.
Na internet, ferramenta muito usada por apoiadores do governo federal, o assunto também ganhou notoriedade: a hashtag #GreveGeral liderou a lista de assuntos nacionais na rede social Twitter. Entre 17h e 17h20, aconteceu uma mobilização virtual – “twittaço” – contra a reforma da Previdência, com postagens incluindo #BrasilBarraReforma.
Centrais reúnem no dia 24
Reunidas no dia 17, as centrais avaliaram como muito positiva a greve nacional realizada em 14 de junho: “O sucesso da mobilização é resultado da unidade de ação do movimento sindical, construída ao longo do tempo e renovada nas deliberações das assembleias em locais de trabalho, em plenárias por categoria e intercategorias; e da articulação com os movimentos sociais, populares, estudantil e religiosos”. Leia aqui a íntegra da nota.
Em reunião marcada para 24 de junho, as centrais definirão ações para ampliar a mobilização e a pressão contra a retirada dos direitos da Previdência e da Seguridade Social.