100 anos de Paulo Freire e a luta pela educação para a emancipação de sujeitos

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem.” – Paulo Freire

O dia 19 de setembro de 2021 marcou o centenário de nascimento do educador, pedagogo e filósofo Paulo Freire. Conhecido internacionalmente pela sua produção teórica no campo da Educação e, em especial, da Educação Popular, Paulo Freire foi um intelectual engajado nos movimentos auto-organizados de alfabetização de adultos, nas lutas emancipatórias dos oprimidos e na transformação da realidade por meio da práxis, da ação refletida.

Entre suas inúmeras obras publicadas, está a trilogia Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança e Pedagogia da autonomia.

O educador pernambucano combatia não apenas a opressão que decorre da necessidade financeira e da limitação do acesso aos bens materiais, mas também reafirmava a necessidade de combater a mentalidade conservadora.

“Freire foi um pensador muito importante nas décadas de 1950, 1960 e 1970 e 1980, atuante em uma perspectiva de educação que buscava colocar no centro da educação pedagógica o direito a uma educação emancipatória”, resume a professora Maria Margarida Machado, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Aprender para transformar
Paulo Freire compreendia que o sujeito aprende para se humanizar. De acordo com o educador, aprender é complemento da formação do sujeito como humano. “Se aprende na relação com o outro, no diálogo com outro, na aproximação dele com o conhecimento do outro. Esse aprender coletivo tem a ver com o conhecimento sistematizado pelas outras pessoas. Saber que você precisa escutar e aprender com o outro é fundamental para romper com uma lógica de educação tradicional”, explica Maria Margarida.

Uma das principais contribuições do educador é a sua crítica à educação não dialógica, conceituada na obra Pedagogia do Oprimido como educação bancária. Segundo o pedagogo, o sujeito que está aprendendo na educação bancária é tratado como um lugar onde se deposita verdades, e, uma vez que não há diálogo, isso não seria um processo de aprendizagem.

“Aprender, para Paulo Freire, é acessar o conhecimento sistematizado, problematizar esse conhecimento, buscar a compreensão para além daquilo que é dito”, acrescenta a docente da UFG.

Outra questão fundamental em sua obra é que se aprende para transformar a realidade. “É fundamental a consciência crítica e de sujeito histórico. Nesta perspectiva, nós estamos anos luz distantes, em toda nossa formação na educação brasileira, seja da educação infantil até a superior, do princípio de empoderar o sujeito para que ele possa se perceber como sujeito transformador da realidade”, completa a professora.

Quem foi Paulo Freire?
Paulo Freire nasceu em 1921, em Recife (PE). Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério.

Em 1963, em Angicos (RN), coordenou um programa que alfabetizou 300 pessoas, cortadores de cana, em 45 dias. No ano seguinte, o golpe empresarial-militar o surpreendeu em Brasília (DF), onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes partir para o exílio.

Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça, colaborou com o movimento sindical italiano na construção de processos educativos e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária.

Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (SP), em 1989 e 1990, na prefeitura de Luiza Erundina. Foi nomeado doutor Honoris Causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de infarto. Em 2012, foi sancionada a Lei 12.612, que declarou o educador Paulo Freire o Patrono da Educação Brasileira.

O legado de Paulo Freire
Em abril de 1990, Paulo Freire concedeu uma entrevista para a primeira edição da Revista Universidade & Sociedade. Leia aqui.

Em julho de 2020, durante o 8º Conad Extraordinário, o ANDES-SN lançou a edição 66 da revista Universidade e Sociedade, com o tema “O Legado de Paulo Freire para a Educação”. Com mais de 25 textos, entre artigos e resenhas, a revista traz diversas reflexões sobre as contribuições freirianas para a Educação, para a Universidade Pública e para a militância sindical, popular e partidária. Confira aqui o material.